domingo, 21 de outubro de 2018

Livros do MEC de 2019 trazem misticismo religioso para as crianças




Em atendimento à proposta de ensino religioso da BNCC, diferentes crenças, ritos e tradições religiosas são apresentadas às crianças pelos livros didáticos do PNLD/MEC do quadriênio 2019/22. Tudo de acordo com a visão materialista das ciências humanas e sociais.



Durante a elaboração da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), havia a possibilidade de escolher entre pelo menos quatro alternativas para o Ensino Religioso.

A primeira, esquivar-se do tema deixando que escolas e sistemas educacionais se organizassem livremente de acordo com a legislação vigente. 

A segunda, acompanhar a interpretação do Superior Tribunal Federal (STF) pela constitucionalidade do ensino confessional nas escolas por ocasião do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, que decidiu pela constitucionalidade do ensino religioso confessional nas escolas oficiais do país. 

 A terceira, apresentar um estudo eminentemente histórico e descritivo das religiões, de maneira isonômica. 

A quarta, questionar e problematizar as religiões, bem como a atuação social de suas instituições e lideranças, não a partir da perspectiva descritivo-teológica mas dos “pressupostos éticos e científicos” das ciências humanas e sociais.

A versão escolhida pelo MEC foi exatamente a última.

E, como ambas as ciências se assentam no materialismo filosófico, é deste lugar que as religiões serão vistas e ensinadas. 

Em função disto, não se pode descartar a possibilidade de esvaziamento e/ou relativização do sentimento religioso do aluno, ainda crianças, especialmente quando se iniciar o processo de problematização das crenças, instituições, padrões sociais e moralidade religiosa.

Pais cristãos de crianças, sobretudo, manifestam-se preocupados com proselitismos culturais na escola a exemplo dos aspectos culturais religiosos de origem indígena e africana. 

E também com a entrada via BNCC, especialmente nas disciplinas de Educação Física e nos textos transversais de interpretação utilizados na área da linguagem, da religiosidade oriental e do esoterismo como categorias da técnica esportiva e da meditação.

Um exemplo é que já no 5º ano, aos 10 anos de idade, o aluno já se inteirou sobre as principais narrativas, mitos, ritos, símbolos, divindades e atributos da Umbanda e do Candomblé. O mesmo conhecimento teológico, nem de longe, esse mesmo aluno receberá sobre o cristianismo.

Ultimamente as vertentes cristãs têm reclamado de desprestígio e cerceamento na escola, mesmo sendo hegemônica. Isto porque foram encurraladas na categoria "religião" (passiveis, portanto, de controle) enquanto outras religiões se deslocaram da categoria própria (não sendo reconhecidas como religião) para se classificarem no amplo e livre trânsito da "cultura" ou da "diversidade cultural e/ou religiosa."


Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e doutorando em ciências da religião (PUC Goiás). É especialmente interessado no acompanhamento do currículo escolar e do material didático.



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