segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Funk, pancadões e MCs em livros didáticos do MEC para 2020


Reverberar na escola a voz de grupos culturais e musicais da periferia.

Conforme atestam publicações de populares na internet, nos últimos anos, tem sido cada vez mais comum a presença de tribos e ritmos musicais relacionados ao rap, funk, hip hop, MCs, pancadões e batidões em festividades, atividades culturais e recreativas de escolas para crianças e adolescentes. 


A partir deste ano a presença desses ritmos na escola ganha força institucional através do currículo e do livro didático, influenciados pelo interculturalismo da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, em vigor desde janeiro.


Os livros didáticos trazem para suas páginas as letras, símbolos, ritmos, personalidades, bandeiras, moralidades, valores, visões de mundo e ideologias desses gêneros musicais para análise, reflexão e reprodução por parte dos alunos.

Um dos propósitos alegados no material didático é o de utilizar esses gêneros textuais e musicais como modelos para despertar nos alunos um tipo de crítica política, social e cultural. 

Fazem parte dessa proposta didático-pedagógica criar na escola uma consciência de luta (de acordo com a visão desses modelos culturais) contra a desigualdade e a opressão das classes sociais menos favorecidas, o preconceito, racismo, machismo, sexismo e padrões comportamentais estabelecidos pela sociedade. 

Orientação pedagógica ao professor: para assimilação e reprodução de modelos culturais.


Como a base curricular e os livros didáticos têm abrangência nacional, essa influência musical e cultural chega às escolas dos mais diferentes lugares e regiões do país, independente de estarem próximas ou distantes dos locais de predomínio  desses repertórios culturais.

As ocorrências apresentadas aqui a título de amostragem foram colhidas em  apenas 4 volumes de Língua Portuguesa e Língua Inglesa para a segunda fase do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano, alunos de 11 a 14 anos), do edital do livro didático de 2020 , cujos livros deverão ficar nas escolas públicas de todo o país por um período de 4 anos, ou seja, até o ano de 2023.

Vale informar que somente as duas disciplinas contam com aproximadamente 120 volumes nesse edital, sendo bastante provável que ocorrências similares sejam encontradas em outros volumes.

O referido edital, publicado no Diário Oficial da União (DOU) nº 60, página 31, de 28 de março de 2018, é assinado por Rossieli Soares da Silva, em nome da Secretaria de Educação Básica (SEB), Ivana de Oliveira, pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) e Silvio de Souza Pinheiro, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Para fundamentar a apresentação dos referidos conteúdos culturais, os autores dos livros didáticos mobilizaram algumas habilidades da BNCC:

EF69LP21) Posicionar-se em relação a conteúdos veiculados em práticas não institucionalizadas de participação social, sobretudo àquelas vinculadas a manifestações artísticas, produções culturais, intervenções urbanas e práticas próprias das culturas juvenis que pretendam denunciar, expor uma problemática ou “convocar” para uma reflexão/ação, relacionando esse texto/produção com seu contexto de produção e relacionando as partes e semioses presentes para a construção de sentidos. 

(EF89LP27) Tecer considerações e formular problematizações pertinentes, em momentos oportunos, em situações de aulas, apresentação oral, seminários, etc.

EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, culturais e humanos e de diferentes visões de mundo, em textos literários, reconhecendo nesses textos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as identidades, sociedades e culturas e considerando a autoria e o contexto social e histórico de sua produção.

(EP89LP20) Comparar propostas políticas e de solução de problemas, identificando o que se pretende fazer/implementar, por que (motivações, justificativas), para que (objetivos, benefícios e consequências esperados), como (ações e passos), quando etc. e a forma de avaliar a eficácia da proposta/solução, contrastando dados e informações de diferentes fontes [...]
(EF69LP54) Analisar os efeitos de sentido decorrentes da interação entre os elementos linguísticos e os recursos paralinguísticos e cinésicos, como as variações no ritmo, as modulações no tom de voz, as pausas, as manipulações do estrato sonoro da linguagem, obtidos por meio da estrofação, das rimas e de figuras de linguagem como as aliterações, as assonâncias, as onomatopeias, dentre outras, a postura corporal e a gestualidade, na declamação de poemas, apresentações musicais e teatrais, tanto em gêneros em prosa quanto nos gêneros poéticos, os efeitos de sentido decorrentes do emprego de figuras de linguagem, tais como comparação, metáfora, personificação, metonímia, hipérbole, eufemismo, ironia, paradoxo e antítese e os efeitos de sentido decorrentes do emprego de palavras e expressões denotativas e conotativas (adjetivos, locuções adjetivas, orações subordinadas adjetivas etc.), que funcionam como modificadores, percebendo sua função na caracterização dos espaços, tempos, personagens e ações próprios de cada gênero narrativo.

 

Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e doutorando em ciências da religião (PUC Goiás).


Acompanhe a nossa série de artigos sobre ocorrências questionáveis no livro didático do MEC de 2020:











Obs.: Todas as imagens da postagem foram retiradas e/ou adaptadas dos volumes representados abaixo pelas suas capas.
Orientação pedagógica ao professor em como selecionar o tema e dirigir as discussões em sala de aula.




A doutrina do Politicamente Correto em ação na linguagem.










































































Um comentário:

  1. Desconstruindo a cultura, a arte e a música, normatizando o que é ruim, "pobre" e de baixa qualidade no processo de desenvolvimento de crianças e adolescentes, deformando valores, conduta e preparando as novas gerações para o engajamento social...

    A quem interessa?

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