quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Ocultismo e assassinato em literatura para educação infantil



Um livro de contos macabros, com requintes de terror e pânico para crianças em fase final de alfabetização e letramento de escolas públicas, vem recebendo severas críticas de pais, professores e políticos. Essa reprovação acontece porque, na intenção deliberada de provocar medo no leitor, os organizadores recorreram a relatos de magia negra, bruxaria, feitiçaria, sacrifício com sangue humano e de animais, aparição de espíritos, demonismo, maldade com pessoas e animais, além de assassinatos.

O programa escolar de leitura e escrita que resultou no livro de contos BÚ! Histórias de Medo e Coragem, é uma iniciativa da empresa espanhola de energia, Endesa Brasil, em parceria com o Ministério da Cultura e publicado com ajuda da Lei de Incentivo à Cultura. Desde o começo deste ano, a obra é distribuída para escolas públicas e utilizada no processo de alfabetização e também letramento de crianças do 4º e 5º anos do Ensino Fundamental.

No ano passado, a empresa realizou um concurso literário em 516 escolas de 19 municípios dos estados onde está estabelecida: Ceará, Goiás, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os 39 contos selecionados para o livro foram (re)escritos por crianças com idades entre 9 e 12 anos, inspirados pelas oficinas de leitura e contação de histórias sobre pânico e terror. 

As adaptações e acréscimos que os alunos fizeram às histórias tiveram supervisão e ajustes dos seus professores de Língua Portuguesa, que receberam material didático e treinamento específico para a execução do Projeto.

Antes de continuar a leitura do artigo, leia o título de cada um dos 39 contos.





A reclamação dos opositores ao livro é justificada pelas alegações de que as histórias não se enquadram no cânon socialmente convencionado do folclore brasileiro, nem como releitura, e lidam sem escrúpulos com delicados temas da religião e do ocultismo. 

Outra observação dos críticos é que não basta considerar o imaginário das crianças-autoras, mas também reconhecer as diferenças de crença na escola. Ainda mais quando algumas das narrativas contrariam convicções simbólico-religiosas da maioria cristã que frequenta a escola. 

Pelo visto, a organização do livro segue a linha materialista para quem a realidade é circunscrita ao mundo físico. Sendo assim, o que religiosos chamam de realidade transcendente à matéria, teria sua existência apenas no âmbito da linguagem e da imaginação. 

De acordo com essa perspectiva, as crenças religiosas se confundem com a superstição. Portanto, os seres e os fenômenos sobrenaturais da religião são da mesma categoria e existência dos seres e fenômenos das narrativas ficcionais. Como o transcendente não existe, ele não pode exigir respeito e não interfere no mundo natural. É por isso que se permite contra ele a burla, o escárnio, a subversão e o ridículo.

Aqui reside o conflito. Os religiosos (cristãos ou não) creem numa realidade fora do campo material e, consequentemente, na revelação que eles têm da natureza e dos atributos que caracterizam os seres espirituais. E, de acordo com esta visão, é perfeitamente factível que seres espirituais atuem na dimensão física, inclusive influenciando a vida das pessoas. 

Desta forma, expressões como Deus, diabo, satanás, demônio, anjos, alma, espírito, feitiço, bruxaria e magia negra encontram significado além da linguagem ou imaginação. Tudo isto tem sentido de verdade absoluta que ultrapassa as limitações naturais, diferente do pensamento materialista. 

Diante do exposto, é clara a existência de dois sistemas de crença que se opõem e são inconciliáveis. E esse conflito termina por se instalar na escola quando uma das crenças procura fazer com que seu discurso prevaleça sobre o outro.  

Ao se defenderem, os que produzem esse tipo de literatura escolar acreditando na nulidade dos seus esfeitos espirituais sobre o aluno-leitor, condenam a interferência religiosa na liberdade de expressão para a criação literária.  Nesse caso, invocam a laicidade do estado. Eles mesmos, porém, desobedecem esse princípio constitucional porque ideologicamente negam, satirizam, execram e promovem o apagamento da religião. Pois bem. Fingem esquecer que a escola pública não tem a função de construir ou desconstruir o pensamento religioso.

Leia a íntegra de dois contos que fazem parte do livro:

O terror da cidade

Um dia em uma cidadezinha qualquer nasceu uma criança, que mesmo sem falar ou andar já fazia o mal. Seu olhar era obscuro e assustava todo mundo, até os seus pais. Quando era bem pequeno ainda, pegou álcool no armário da cozinha, jogou na casa do vizinho e tacou fogo, só porque esse vizinho tinha reclamado dele para seus pais, devido a ele sempre bater no seu filho.

O tempo passou e o menino cresceu cada dia mais malvado, fez muita coisa errada e até sofreu um acidente quando pulava um muro roubando seus vizinhos. Nesse acidente ele ficou paralítico. E mesmo assim não aprendeu a ser melhor. Até mesmo velho e de cadeira de rodas aprontava das suas.

Um dia ele estava andando pela rua e viu um menino passando com um senhor. O senhor o encarou, pois reconheceu que aquele velho era o garotinho que incendiou a casa dos seus pais, fazendo-os ficarem na rua. O senhor contou tudo para seu filho que, zangado, empurrou o velho da calçada.

Ele ficou caído no chão, no meio da rua, quando um carro em alta velocidade o atropelou. O velho perdeu muito sangue e morreu.

Inesperadamente, do meio do sangue dele saiu um bicho ruim, dizem que era o diabo que veio buscá-lo. Então o velho virou um monstro terrível.  O diabo deu o nome para ele de 'O terror da cidade'. Agora ele era um espírito do mal, dos seus olhos saía sangue todas as vezes que via crianças malcriadas.

Dizem que todas as noites de Sexta-Feira 13 seu espírito ainda aparece para se vingar das crianças. Quando ele vê uma criança fazendo maldade, vai até a porta da frente e bate, chamando a atenção dos pais. Enquanto isso, ele aparece no quarto para pegá-las e transformá-las em monstrinhos escravos, que são obrigados a fazer tudo o que ele quer. É por esse motivo que os pais não deixam seus filhos sozinhos e nem atendem à porta nas noites de Sexta-Feira 13.



Observe a faca suja de sangue
                     
Trechos de 5 contos do livro:

Uma noite terrível

"Dona Bruxela tinha uma vizinha que ela não gostava, vivia discutindo pra ver se a vizinha iria embora. Certo dia resolveu que iria fazer uma bruxaria para afastar a vizinha para bem longe. Pegou uns fios de cabeço da vizinha, perna de cururu, cabeça de calango, teias de aranhas, veneno de cobra, dentre de cachorro e olho de jacaré. Mas quando foi realizar a bruxaria e começou a falar 'sim salabim salabim bim bim', de repente a Bruxela começou a sentir uma quentura que vinha do chão."


A flor enfeitiçada

"Era uma vez uma menina muito ingênua. Um dia ela foi passear e, no meio do caminho, encontrou uma velhinha que vendia flores. Ela comprou uma flor, mas não sabia que aquela flor tinha feitiço. 
 (...) A mãe não acreditou na velhinha e botou ela pra fora. A mãe foi dormir e, quando ela fechou os olhos, de repente a velhinha apareceu no quarto com uma faca e, furiosa, matou a mãe da menina. A feiticeira pegou a menina e levou para o além." 

A bruxa e as crianças

"No dia da festa vieram muitos animais e o feiticeiro da floresta. A bruxa começou a dançar com o feiticeiro perto de um caldeirão e os dois meninos os empurraram dentro do fogo, e jogaram muita lenha, deixando-os sufocados. Eles morreram queimados. Os meninos deixaram a casa de chocolate e voltaram para casa." 

Uma noite no cemitério

"O espírito do menino disse:
- Deixem que nos apresentem, somos espíritos. O meu nome é João e o dela é Maria Júlia, e vocês devem ser Larinha, Hemilly Maria, Ana Carolina e Maria Júlia. Elas estavam paralisadas de medo."

Ataque de zumbis

"Esse antídoto era feito de asa de morcego, olho de sapo, ossos de gaivota, sangue humano O positivo, pó de café e tinta."

Ao trabalharem esses contos na alfabetização e no letramento de crianças filhas de cristãos (romanos, ortodoxos ou protestantes) eles agridem a fé desses grupos. Os feitiços, rituais de magia negra e confissões satânicas não são encarados por essas famílias como simples brincadeiras com o sagrado, mas despertam nelas temores reais e crença em maldições físicas e espirituais.

Não que devesse existir limites de expressão para a criação literária, mesmo contos como estes e suas concepções ideológicas. O erro está na escolha do público a quem este material é destinado. Em se tratando da educação de crianças na escola pública, deveria haver bom senso e critérios consensuais para a ministração do conteúdo. Um dos critérios, deveria ser o consentimento da família para que a criança tivesse acesso ao conteúdo ideológico das narrativas.

Seguindo este critério, vale perguntar:
a) Quem são os 3.067 sujeitos-autores que participaram do concurso que originou este livro? 
b) Qual a religião das suas famílias?
c) As famílias tiveram conhecimento prévio dos tipos de história motivadoras que o Projeto desenvolveu com os alunos? 
d) Depois de ouvirem histórias macabras e de ocultismo e se inspirarem nelas para escreverem seus contos, como estão as emoções destes alunos hoje? 
e) É possível afirmar que alunos-autores que se inseriram no processo de leitura e produção dos textos do  livro evoluem para uma visão cética sobre religião? O mesmo se dá com alunos-leitores dos textos na alfabetização e no letramento?

Material pedagógico e treinamento dos professores

A proposta do projeto BÚ! Histórias de Medo e Coragem, é inserir-se no currículo da escola pública. Para isto, fornece o material didático de apoio e curso de treinamento em "contação de histórias" aos professores. Nas fotos colocadas na parte dos anexos deste texto, todas elas colhidas da internet, é possível verificar as fases de preparo e aplicação do projeto. 

Mais considerações

Em certo sentido, pode-se considerar de boa intenção e com acerto a iniciativa do Programa Endesa Brasil de Educação e Cultura em auxiliar escolas públicas no processo de alfabetização e letramento de seus alunos. Ainda mais quando se trata de estimular a pesquisa e desenvolver habilidades de (re)leitura e (re)escrita, um dos desafios que a educação brasileira precisa enfrentar com mais urgência e determinação.

É sabida a utilidade das histórias de ficção (contos, lendas, parlendas) para a formação e afirmação de valores e do caráter. Da mesma forma, as histórias que provocam o medo e estimulam a coragem têm a importância de preparar o indivíduo para o enfrentamento das situações reais encontradas na vida. 

Nas famílias e na sociedade muitas histórias que fazem parte do acervo coletivo são tradicionalmente apresentadas informalmente às crianças, com essas finalidades. É lógico, porém, que as famílias e a sociedade, de acordo com seus valores culturais e religiosos, exercem uma censura própria para os dizeres que chegam aos seus filhos. 

Em vista disto, é possível supor que os motivos para os questionamentos ao Projeto não estão ligados à escolha do tema "histórias de medo e coragem", mas ao tipo de história contada e também à classificação etária. Certamente o livro não estaria encontrando resistência de professores, pais e políticos se os organizadores tivessem tido o cuidado de escolher histórias convencionais que também provocassem medo e coragem. 

Portanto, faltou sensibilidade sócio-cultural aos organizadores do Projeto ao promoverem a banalização do macabro e do sobrenatural, susceptíveis de discordâncias e rejeição por uma parcela considerável de pais e professores. Com isto, é provável que tenham trazido sérias dificuldades para o futuro do Projeto, pela rejeição que ele pode suscitar por parte de pais e professores. 

Uma iniciativa que tinha tudo para beneficiar a educação pública de crianças, sobretudo no desenvolvimento do imaginário, da expressividade, leitura e escrita, é prejudicada por erro pedagógico primário ou mesmo um deliberado capricho ideológico.

Resta saber se é intenção da Endesa Brasil provocar esse acirramento ideológico na educação de crianças, causando contrariedade e choque em pais e professores. Outra questão é se a empresa está disposta a enfrentar a oposição das famílias e o consequente desgaste para sua imagem, na proporção em que elas forem tomando conhecimento do teor das narrativas dos contos.  


Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e mestrando em estudos teológicos (SPRBC)


Anexos que subsidiam o texto:


Esta é a capa do livro


Esta é a contra capa.












Treinamento dos professores


Professores apresentam o material para as aulas de "contação de histórias" que é fornecido pelo Projeto BU!


Deputados goianos protestam contra a tendência ocultista dos contos



Alunos e professores participantes do projeto BU!


Crianças em momento de leitura


Crianças em momento de leitura



Exposição de livros do projeto BU! Histórias de medo e coragem





Os materiais usados nas representações vêm em malas estilizadas  em modelo antigo.


Mascaras e adereços


Materiais usados na simulação feitiços e poções mágicas



Preparo do feitiço e do encantamento


Preparo do feitiço e do encantamento


Sala de aula com cenário adequado aos contos


Momento de apresentação numa escola


Aluno caracterizado de acordo com o conto escolhido para apresentação


Alunos caracterizados de acordo com o conto escolhido para apresentação


Alunos caracterizados com personagens dos contos


Aluno lê o conto vestido como o personagem


Encenação de morte


Professora caracterizada de personagem encena um conto ao alunos


Uma aula com o projeto BU!



Normalmente o projeto culmina com a produção de textos pelos alunos, reescrita de histórias, criação de outras, pinturas, desenhos...


Alunos preparam a poção mágica













Estes são alguns sites que se referem ao livro citado:

http://buhistoriasdemedoecoragem.com.br/

http://tv.diariodonordeste.com.br/video/diarinho/veja-trecho-do-projeto--bu--historias-de-medo-e-coragem-/364c1375c8d98c49f96f21bd41df8598

http://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/vereadores-e-deputados-pedem-retirada-de-kit-sobre-terror-distribuido-em-escolas-de-goiania-14497/

http://www.boanoticia.org.br/noticias_detalhes.php?cod_secao=1&cod_noticia=5649

















quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Evocação de espírito e possessão em literatura infanto-juvenil do MEC


Evocação é o título do livro escrito por Márcia Kupstas, com prefácio do novelista Walcyr Carrasco. Trata-se de uma obra do gênero terror, com a ocorrência de eventos sobrenaturais, destinada ao público infanto-juvenil. 



Este livro foi distribuído no começo do ano para escolas públicas de todo o país, visto que integra o acervo de livros literários selecionados em 2013, pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). De acordo com a classificação feita pelo Ministério da Educação (MEC), serve do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, ou seja, atende alunos que tenham entre 11 e 15 anos.

Ele conta aventuras de 5 adolescentes entre 12 e 17 anos, durante as férias escolares numa casa de praia do litoral norte paulista. Uma das aventuras foi brincar de consultar o sobrenatural com o jogo do copo ou tabuleiro ouija. A brincadeira, porém, fugiu ao controle do grupo com a aproximação do suposto espírito de um jovem surfista e a ocorrência de outros fenômenos sobrenaturais. 


O tabuleiro ouija que foi utilizado pelos adolescentes, com respostas sim ou não escritas em papel e o copo servindo de indicador, é uma variante do mesmo instrumento de superfície plena, letras, números, símbolos e indicador móvel utilizado pelas irmãs americanas Kate e Margaret Fox para se comunicarem com espíritos.



O livro trata de questões filosóficas e espirituais complexas como o destino, livre arbítrio, morte e pós-morte, possessão, necromancia, mediunidade, tudo de acordo com a visão da doutrina espírita. Essas questões são resolvidas ora pela narradora-personagem Magda ou pela sua avó Magdalena, professora universitária, pesquisadora e parapsicóloga.


Considerações

No anexo 1, há o testemunho da narradora-personagem dizendo que sua iniciação em experiências sobrenaturais deu-se aos 15 anos. A personagem mais nova, tem 12 anos. Coincidentemente, essa é a faixa etária de leitores recomendada pelo MEC. 

Cabem as perguntas: será que os alunos não buscarão reproduzir a experiência sobrenatural dos personagens? Quais as possíveis consequências dessa eventual experimentação, visto que trata-se de prática religiosa sujeita a efeitos concretos?

Nos anexos 2 e 3, consta a suposta conversa do grupo com o espírito do jovem surfista. 

Cabe a pergunta: qual o impacto que esta possibilidade de evocação de espírito pode ter na crença de um aluno-leitor que pertença a uma família que não acredita na comunicação dos vivos com os mortos?

Nos anexos 4 e 5, acontece o desfecho da história e onde são tratadas as grandes questões doutrinárias do livro. Uma forte defesa da doutrina espírita. 

Cabe a pergunta: embora possa ser considerado considerado ficcional e literário, não teria este livro uma função prioritariamente proselitista? 

A própria autora, em entrevista publicada no mesmo livro, admite que acredita na realidade dessas manifestações espiritualistas. Ela, no entanto, pondera que é possível aos leitores fazerem outra interpretação, creditando as manifestações sejam fantasias e no máximo, obra de fantasmas. 

Estes questionamentos se baseiam  no esforço deliberado das diretrizes educacionais públicas brasileiras pelo apagamento dos valores culturais das tradições judaica e cristã.  Os livros didáticos e paradidáticos quase não fazem mais referência à religiosidade cristã, por exemplo.  Por outro lado, privilegiam outras manifestações religiosas, principalmente aquelas ligadas à Nova Era e as espiritualistas. 

Essa política medida e consciente de desconstrução, apagamento e substituição religiosa através da escola tem trazido desconforto aos mais de 80% de cristãos (católicos e evangélicos). E é a esse grupo majoritário que pertencem as crianças, adolescentes e jovens das escolas públicas. 


Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e mestrando em estudos teológicos (SPRBC)





Anexos (complementam as informações do texto)

Anexo 1
Anexo 2


Anexo 3

Anexo 4
Anexo 5









terça-feira, 14 de outubro de 2014

Lula e Fidel são exemplos em livros didáticos do MEC

Lula e Fidel Castro ilustram conteúdos em dois livros didáticos de Língua Portuguesa para o Ensino Fundamental. Lula estampa o conteúdo de "expressão oral" em livro para o 6º ano (*) e Fidel, o conteúdo de "reconstrução dos sentidos do texto" em livro para o 9º ano (**).

No primeiro caso, o aluno aprende a usar estratégias de progressão textual, visando o fortalecimento de seus argumentos no debate, imprimir estilo próprio de fala e firmar o tom das palavras. Ao destacar Lula em cena de discurso para uma multidão, o livro exemplifica-o como alguém que domina estratégias argumentativas. 


No segundo caso, ao analisar um discurso político-estudantil, o livro mostra dois quadros: um com a imagem do encerramento das Olimpíadas de Moscou, de 1980 e Fidel Castro discursando. Embora os quadros levem o nome de "conexões" (certamente, com o conteúdo), não se vê razão para suas existências porque não se percebe ligação lógica entre eles e o conteúdo.    

                                  

A não ser que o livro pretenda forçar a ligação da temática comunista nos dois quadros com a causa político-estudantil. Se esta for a intenção, não estará fugindo à corriqueira prática esquerdista: fazer com que o território estudantil se torne monopólio do socialismo/comunismo.

Considerações

Não se discorda que Lula e Fidel sejam bons oradores e têm seus nomes na lista de políticos com destaque na oratória. É questionável, porém,  por que justamente eles foram os escolhidos para ilustrar conteúdos nestes livros didáticos. 

Existe pelo menos uma suspeita: embora os livros sejam de Língua Portuguesa, há neles uma clara preferência pelo socialismo constatada nos comentários e na escolha de imagens e textos complementares e/ou ilustrativos. Essa preferência coloca-os em cooperação com iguais tendências ideológicas encontradas em livros de outras disciplinas. 

Com isso, é formada uma rede homogênea de apoio didático em várias disciplinas para afirmação e reafirmação político-ideológica no imaginário do aluno. A intenção velada (e não admitida) é criar, mais do que admiradores, seguidores ideológicos desde a infância. Daí a importância de apresentar com simpatia ícones e/ou figuras ligadas à esquerda brasileira e estrangeira, mas também ao atual governo. 

Ainda mais quando o professor é militante da mesma política e ele mesmo um admirador dessas personalidades. Uma foto ou citação são capazes de oferecer oportunidades para formar a opinião do aluno. Este é um tipo de propaganda que, se escapa da boa moral, é eficiente para fazer com que os alunos se acostumem com nomes, biografias e rostos ligados à ideologia pregada. 


Orley José da Silva, é professor em Goiânia, mestre em letras e linguística (UFG) e mestrando em estudos teológicos (SPRBC).


Nota:
Os livros de Língua Portuguesa fazem parte do catálogo do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), do Ministério da Educação, da 2ª fase do Ensino Fundamental, para o triênio 2014/16. Eles foram distribuídos para escolas públicas ligadas aos governos federal, distrital, estaduais e municipais. O livro do 6º ano, (*) 27447C0L01, atende às crianças de 11 e 12 anos. O livro do 9º ano, (**) 27484C0L01, atende aos adolescentes de 14 e 15 



Anexos com o contexto dos textos e imagens recortados:  








A quem interessa o desperdício público de livros didáticos?

Foto: Maria Machado/Arquivo Pessoal. (divulgação) Algumas redes públicas de ensino do país estão aderindo a uma espécie de terceirização bra...