Na antiguidade a Língua era ensinada como uma arte
que se cultivada era capaz de conduzir o aluno à sabedoria. Era prioritária e
de alto valor educativo, de cunho objetivo e realista, sabendo-se que dela
adviria um adulto pleno capaz de amar o conhecimento e exercer suas habilidades
intelectuais com maturidade, retidão e verdade.
Enquanto
arte, a linguagem era estudada contemplando todas as matérias e funções, tais
sejam: fonética, ortografia e gramática.
Na
antiguidade os alunos iniciantes em Filosofia aprendiam a Gramática, a Lógica e
a Retórica. A Gramática, porque constitui a normatização de uma língua, é a
ciência das letras e trata especificamente das palavras, das letras, seus
caracteres e sons, a categorização das palavras, o substantivo, pronome,
adjetivo, verbo, advérbio e etc. A Lógica, porque é por meio dela que se compreende
a natureza e os conceitos das coisas. Não é à toa que os alunos modernos não sabem a diferença entre conceito e característica. E a Retórica, porque
provia o aluno de capacidade para o desenvolvimento da argumentação. Estas eram
as bases da linguagem na antiguidade. Hugo de São Victor definia esses três
eixos da linguagem da seguinte forma: a gramática como a arte de falar sem
vícios, a dialética como a arte de distinguir o verdadeiro do falso, e a
retórica como a capacidade de falar com persuasão aquilo que é verdadeiro e
idôneo.
Ensinava-se
a linguagem segundo a metafísica, como um mecanismo para se compreender a
realidade, mostrar a coisa tal como ela era, e como tal coisa era conhecida e
comunicada. Entendia-se a importância da linguagem pelo papel relevante que ela
desempenha no conhecimento e no pensamento.
Então,
se as palavras manifestam o que pensamos, como afirmava Aristóteles, para a boa
utilização da linguagem e expressão correta do pensamento era necessário saber
ler; compreender as propriedades das palavras e conceituá-las adequadamente;
organizar as ideias com racionalidade e lógica; desenvolver habilidades de
comunicação de modo que o estudante adquira a capacidade de pensar por si
mesmo.
No
entanto, desde que se prometeu um admirável mundo novo às crianças, e que as
tornaram cobaias de uma possível transformação social, decorreram-se
consequências diversas, entre elas: um vácuo no ensino da língua e devidas
superficialidades.
Depois
que a escola atribuiu para si objetivos de mera socialização, pertencimento e
objeto para promover a construção de identidades, a língua não serve para nada,
além de simplesmente aglomerar os indivíduos em massas coletivas, unificá-los
em torno de uma linguagem especificamente ideológica, e adestrá-los para se
criar um exército de revolucionários politicamente corretos.
Portanto,
para a formação de uma sociedade revolucionária ao invés de se aprender uma
língua normativa, cria-se verborragias de hordas tribais, que não dependam de
regra alguma, e se existirem, tais regras devem ser mutatis mutandis, sem que
jamais absorva a linguagem “opressora” de algum grupo social que se proponha
superior ou mesmo absoluta.
Você
verá a seguir como a Língua Portuguesa perdeu a sua essência no livro didático,
ferramenta básica para o trabalho pedagógico, e na escola, lugar que, a rigor,
deveria resguardá-la e protegê-la dos descaminhos políticos, sob pena de
perdermos os laços que nos une ao passado, e de nos tornarmos meros receptores
de culturas incertas e voláteis.
1)
A gíria no livro didático de Língua Portuguesa
como forma de expressão enfática e característica da diversidade de
linguagem.
Figura 1
Coleção Gosto de saber 4º Ano Língua Portuguesa, p. 145
Como se
verifica na figura 1, o livro da Coleção - Gosto de saber, 4º Ano da Editora
Terra Sul,- selecionado no PNLD 2018, dedica uma unidade completa à gíria
incluindo esta entre as variantes linguísticas. Ocorre que a gíria é uma
expressão de jargão aquém da formalidade. Não há razão de incluí-la no livro
didático, uma vez que não tem valor algum para a formação acadêmica. Trata-se
de uma ação interculturalista para se contemplar todas as facetas dos grupos,
as que existem e as que poderão ser criadas, como se percebeu na mais recente
avaliação do ENEM onde os alunos tiveram que responder a uma questão sobre o
jargão dos gays, como se fosse esta uma atividade relevante e como se todos os
alunos convivessem com as práticas e atividades destes grupos.
Como se
não bastasse as gírias, há ainda as reflexões sobre produção de sentidos. Na
fase em que as crianças precisam compreender conceitos e padrões mais básicos;
expressar com clareza e correção; grafar corretamente, sem omissões,
acréscimos, troca de letras, as palavras da Língua Portuguesa; redigir
observando as normas convencionais correspondentes, elas perdem energia
capturando sentidos, gírias e trivialidades da vida comum que certamente não
são relevantes para a formação acadêmica e nem para o desenvolvimento cognitivo
e intelectual.
Figura 2
Coleção Gosto de Saber 4º Ano Língua Portuguesa, p. 156
Na
figura 2, ainda referente à Coleção Gosto de saber do 4º Ano da Editora Terra
Sul, selecionada no PNLD 2018, na questão em análise, espera-se que o aluno
reconheça a função da pontuação, mas o destaque é para os aspectos linguístico-expressivos
e para a aplicação da coerência em textos repletos de erros, denominados “variantes
dialetais”.
A
Língua Portuguesa ao longo de todo o livro é tratada mais como uma questão
folclórica que uma disciplina onde os alunos necessitem dominar as competências
mediante o conhecimento das convenções.
A
Gramática torna-se apenas um plano de fundo sem o devido destaque e é tratada
nos novos livros didáticos como uma prática criativa onde o aluno é o
protagonista do próprio aprender. Ocorre que é impossível ser protagonista de
algo que não se tem o domínio. Vê-se apenas uma subestimação da capacidade dos
alunos dominarem a gramática que constitui a normatização da própria
língua.
Figura 3
Coleção Gosto de Saber - Língua Portuguesa , 4º
Ano, p. 145
Observa-se que no suplemento didático do professor orienta-se que não se deve usar a gíria nos trabalhos formais, ou seja, se a gíria não tem importância, não há necessidade do livro didático manter o foco nessa prática.
Vê-se
ainda que os estudantes são instigados a levantar hipóteses sem sequer saber os
princípios fundamentais que regem a língua, e são obrigados a refletirem sobre
aspectos sem sequer conhecer a estrutura de uma frase.
O que
se percebe nos livros didáticos de Língua Portuguesa são textos que propõem
análises sob a perspectiva da contextualização, das inferências, do intertexto
e outras inovações, porém nenhuma destas práticas pedagógicas, nem no âmbito da
língua e nem de qualquer outra área, têm apresentado qualquer sucesso, pois os
exames têm demonstrado que os alunos mal leem, menos ainda compreendem e
inferem.
Eis a
razão porque os livros contemplam em sua totalidade as variantes sociais, pois
estas, normalmente, todos têm domínio, uma vez que constitui sua linguagem
usual. O desafio consiste em dominar as variantes cultas, pois são elas que se
baseiam nas raízes da língua, e apreendê-las constitui uma promoção ao
desenvolvimento cognitivo do aluno.
Percebe-se
que a incorporação da abordagem sociolinguística alcançou seu apogeu
encontrando em seu caminho a Base Nacional Comum Curricular que consagra os
saberes linguísticos como indispensáveis para a formação da cidadania do aluno.
Nesse
conjunto, as práticas sociais interativas, a participação social e a
remodelagem da cultura, são eixos para
a composição dos estudos linguísticos aplicados aos alunos na primeira fase do
Ensino Fundamental. De modo geral, há um desvio de finalidade no objetivo do
livro didático de Língua Portuguesa que a rigor, poderia ser uma ferramenta
para ajudar o aluno a desenvolver o aprendizado correto da língua.
Afirma-se
que o conjunto do trabalho ajudará a criança a ler autônoma e criticamente, no
entanto, o que sabemos mediante os exames é que chegam ao Fundamental sem saber
ler e terminam o Ensino Médio sem compreender um texto.
O Livro
didático de Língua Portuguesa apresenta desvio de finalidade, e sua ênfase se
detém: na expressão de identidades culturais; na língua como fenômeno cultural,
histórico, social, heterogêneo; e o texto como canal de manifestação dos
valores ideológicos.
Conclui-se
que os livros de Língua Portuguesa utilizam a língua para fins subversivos,
políticos e ideológicos em atendimento à visão de uma corrente política que
afirma que a língua é instrumento de opressão e domínio, superioridade,
controle, distinção de classes e meio para se assentar na classe dos
privilegiados.
Ora,
não é função do aprendizado da língua portuguesa ser utilizada como arma ou
meio de exclusão social ou para estigmatizar este ou aquele aluno, mas não é por
esse motivo que se deva desmerecer o valor que ela tem para o aprimoramento e
desenvolvimento cognitivo e intelectual do aluno, uma vez que é esta a função
da escola, doutro modo, não haveria necessidade da sua existência. Se não há na
escola nada a aprender para além do trivial, a escola não tem razão de ser e
existir, portanto, toda a sociedade está sendo ludibriada e seus impostos estão
sendo mal aplicados.
Silvailde de Souza Martins Rocha, é pedagoga em Teresina (PI), mestre em políticas públicas e gestão da educação básica (UnB). É presidente Instituto de Estudos Independentes (INTESI), que se dedica à pesquisa sobre educação.
que merd*
ResponderExcluirque merd*²
ResponderExcluirAí ce me quebra né pai!
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